quinta-feira, 5 de maio de 2011

“Você que vai morrer, eu só vou assinar o B.O.”

Depoimento da paulista Laura Sobenes ao ser ameaçada por um motorista de ônibus no final da tarde do domingo 01/05/2011:
“Pois é, aí hoje por volta de umas 12h estava voltando de Pinheiros pra casa (Bela Vista) quando um ônibus me fechou na Paulista, pra variar. Parei pra conversar com o motorista, dar um toque, falar pra ir mais devagar, tomar cuidado com o ciclista, aquela coisa toda…
Só que o cara começou a ficar agressivo, como acontece quase sempre e começou a falar que ciclista era pra andar na calçada, porque a rua era muito perigosa e bla bla bla.
O farol abriu, ele jogou o ônibus em cima de mim (eu estava na faixa do lado da faixa do ônibus) e eu parei de novo do lado e perguntei: “cara, pra que isso?” e tive que ouvir um curto e grosso: “ué, toma cuidado. É você que vai morrer. Eu só vou assinar um B.O.”
Pois é. É bem capaz que isso aconteça mesmo. Se um cara atropela a Massa Crítica de Porto Alegre e anda solto por aí, que dirá um motorista de ônibus que atropelar “só um” ciclista…
Enfim, persegui o cara e fiz um vídeo.”

Discussão com motorista de ônibus na Av. Paulista from Laura Sobenes on Vimeo.



Infelizmente esse caso não é uma exceção. Muitos motoristas ainda acreditam que lugar de  bicicleta é na calçada e nos parques, e outros tantos acham que o ciclista é que tem que se cuidar, senão vão passar de carro por cima dele, quando na verdade quem deveria zelar pela segurança dos ciclistas (e pedestres) são os motoristas, já que estão armados, conduzindo com responsabilidade e respeito aos demais.

 
Esse comportamento reflete a nossa cultura de não tratar os homicídios no trânsito com a mesma seriedade com que tratamos as mortes fora do trânsito (“Foi um acidente”). E também é um reflexo das políticas públicas, e, infelizmente, Prefeitura e órgãos que deveriam fiscalizar o trânsito são muito pouco eficientes (pra não dizer inúteis) na conscientização e educação dos motoristas.
Em Porto Alegre a situação é clara: mais de dois meses depois do atropelamento de dezenas de ciclistas, a prefeitura e EPTC ainda não instalaram as placas pedidas com urgência pelos ciclistas que participaram da reunião na EPTC (que contou até com presença do prefeito José Fortunati). Placas essas que deveriam mostrar para os carros que bicicletas podem (e devem) transitar na rua e que os veículos motorizados têm que manter uma distância de 1,5m do ciclista.

 

Pior ainda, além de não instalar as placas solicitadas, a Prefeitura de Porto Alegre removeu diversas placas de “Compartilhe a Pista”, instaladas pelos próprios cidadãos da cidade, sob o pretexto de que “estavam fora dos padrões”. O máximo que poderia acontecer era o motorista não conseguir ler, pois as placas eram menores do que o padrão da EPTC.
Outro exemplo do fracasso do poder público em fazer os motoristas respeitarem os pedestres, foi o “Novo Sinal de Trânsito”. A faixa segue sendo desrespeitada pela maioria dos motoristas.
Não podemos ficar parados contando com o “poder público”. O nosso poder é a nossa criatividade, a nossa força física e os nosso recursos, precisamos usar eles para recriar a nossa cidade. A cidade é das pessoas, a nossa cultura somos nós que fazemos, precisamos espalhar nossas idéias com arte, com ação direta, com manifestações e com alegria. Precisamos continuar nos mexendo e incomodando para melhorar a cidade.

Vá de bici 

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