No último sábado, 7 de maio, um grupo de ciclistas que fazia um passeio de mountain bike foi surpreendido por um rally de veículos 4×4, em alta velocidade, numa estradinha do interior paulista. Um dos ciclistas foi atingido nas costas e por sorte o encontro não acabou em tragédia.
O grupo de 40 ciclistas – entre eles, 18 mulheres – fazia um passeio de Joanópolis a São Francisco Xavier, trafegando por estradas de terra e contando até com carro de apoio. Ao fazerem uma parada para lanche, veículos de porte grande como Mitsubishi e Troller surgiram em alta velocidade na estrada. Segundo Paulinho de Tarso, do Sampa Bikers, os carros que puxavam a fileira de “competidores” aceleraram para cima dos ciclistas em vez de diminuir a velocidade.
“O ‘ataque’ foi efetuado pelos três primeiros carros, que passaram em alta velocidade. O primeiro deles, que atingiu dois de nossos ciclistas, também acelerou em cima de todos do grupo. Por pouco não passamos por algo semelhante do ocorrido em Porto Alegre”, conta Paulinho.
O grupo de motoristas seria do Rallye Clube do Brasil. O Vá de Bike tentou entrar em contato por e-mail com o clube no início da tarde de segunda-feira, reenviando o e-mail no final da tarde, mas não obteve nenhuma resposta até a terça de manhã.
Vídeo
Os ciclistas conseguiram registrar alguns dos carros, um deles o da imagem abaixo. Repare que a estrada não oferece condições para trafegar em alta velocidade.
Apesar da velocidade que podemos perceber nessa imagem, os carros que passaram antes deste estavam ainda mais rápido, mas não puderam ser filmados porque os ciclistas foram pegos de surpresa.
Ameaças e ofensas
“Quando o primeiro carro apareceu colado na bike do Patrick, a gente começou a acenar para diminuir a velocidade. Ele então acelerou ainda mais. Para o segundo carro, acenamos para diminuir e ele também acelerou. Uma menina abriu o vidro, nos xingou e disse que estávamos atrapalhando o rally, pois eles estavam atrasados”, afirma Paulo.
Patrick Folena, empresário de 37 anos que foi atingido nas costas por um dos veículos, também conta que os motoristas dos primeiros carros ofenderam os ciclistas com palavras de baixo calão. Por sorte a pancada foi leve e Patrick está bem, mas algo muito pior poderia ter acontecido.
Paulo de Tarso ressalta que “nem todos os participantes do rally cometeram esse ato de barbárie”. Os que vinham mais atrás, em carros menores, diminuíram a velocidade e até foram simpáticos com os ciclistas.
Paulo de Tarso ressalta que “nem todos os participantes do rally cometeram esse ato de barbárie”. Os que vinham mais atrás, em carros menores, diminuíram a velocidade e até foram simpáticos com os ciclistas.
Rally clandestino?
Alguns carros tinham números adesivados e também o nome Rallye Clube do Brasil. Mas não havia nenhuma sinalização ou aviso na estrada que indicasse que uma competição com carros em alta velocidade estava sendo realizada ali. Também não havia nenhum batedor, avisando da passagem dos competidores.
A estrada não oferece condições de circulação em velocidade. “Era uma estrada de terra de zona rural, onde há muitas pessoas a pé, gado e cachorros”, conta Patrick, que afirma ter visto um cachorro atropelado na estrada, mais adiante.
Sobre a sinalização, Patrick conta que não havia “absolutamente nada, nenhuma indicacao, placa ou comunicado. Acredito que nesse tipo de evento a trilha deveria ser fechada exclusivamente para os carros, assim a populacao nao correria riscos”.
Entre as perguntas ignoradas pelo clube de “rallye”, o Vá de Bike questionou se havia autorização das prefeituras locais para realização de uma competição com veículos automotores em estradas públicas.
Entre as perguntas ignoradas pelo clube de “rallye”, o Vá de Bike questionou se havia autorização das prefeituras locais para realização de uma competição com veículos automotores em estradas públicas.
Certeza de impunidade
Infelizmente os ciclistas não chegaram a fazer boletim de ocorrência. “Deveríamos ter feito. Na verdade quando cheguei em São Fracisco Xavier até procurei um posto de polícia, mas não havia, somente em São José dos Campos. Aí como lembrei que lá em Porto Alegre o cara foi solto, desencanei. Não deveria, mas desencanei por não acreditar mais em nossa justiça”, relata Paulinho.
Assim na terra como no asfalto
A certeza de que nada vai acontecer faz os motoristas se comportarem como se fossem os únicos usuários das vias. O comportamento dos primeiros carros dessa competição reproduz o que podemos ver nas ruas em nossos deslocamentos: motoristas com pressa, acreditando que têm mais direito ao uso da via e que os demais devem liberar passagem, nem que seja na marra. Forçam o carro em cima das bicicletas, como se pessoas, bicicletas e até motocicletas e veículos menores fossem obstáculos obstruindo a passagem.
Ignorando leis e regras básicas de convivência em sociedade, pessoas assim fecham e até derrubam ciclistas também nas ruas, para ensiná-los a não ocupar o espaço sagrado do automóvel. Enquanto esses “descuidos” e “acidentes” não forem punidos como crimes, gente assim continuará agindo sem se preocupar com as consequências.
Site retirado do ar
Mas por falar em preocupação com consequências, o site do clube amanheceu fora do ar. Nele, era possível encontrar detalhes sobre a competição e fotos de participantes. Aparentemente todos os arquivos foram apagados do servidor, pois mesmo um link direto para o regulamento da prova não funciona mais.
A página de contato fornecia os seguintes endereços de e-mail e um número de celular, caso mais alguém da imprensa deseje entrar em contato:
Salles: salles@rallyeclubedobrasil.com.br – (19) 9623-4527
Assuntos gerais: rallyeclubedobrasil@rallyeclubedobrasil.com.br
As perguntas enviadas ao clube de “rallye”
Reproduzo aqui as perguntas que foram enviadas ao Rallye Clube do Brasil:
1. Havia conhecimento e autorização das autoridades locais (prefeitura, Polícia Militar) sobre a realização da competição?
2. Havia sinalização nas vias utilizadas, para indicar à população local e demais usuários das estradas de que ali estava sendo realizada uma competição de velocidade?
3. Foi prestado socorro aos ciclistas atingidos pelos veículos?
4. Houve discussão entre os dois grupos?
5. Houve contato com os ciclistas após o ocorrido?
6. A polícia foi comunicada sobre o ocorrido?
7. Havia carro batedor na dianteira do grupo?
8. Havia carro de emergência, que pudesse prestar socorro aos ciclistas atingidos?
9. Algum dos motoristas envolvidos aceitaria dar um depoimento, para mostrar o outro lado do ocorrido?
Apesar de não ter recebido resposta alguma, esta página continua aberta às respostas do clube, através do espaço de comentários.
Por Willian Cruz
como siempre,el ciclista es la persona mas devil ante semejante atropello,siempre igual..!!! los conductores no respetan nada.saludos esequiel!!!
ResponderExcluirÉ, infelizmente, parece que atrás de uma tonelada de aço eles esquecem que á sua frente existe um ser humano... Abração, Ginetas!
ResponderExcluir