quinta-feira, 5 de maio de 2011

P29BR 29ER LONG TERM TEST / Scott Scale 29 Pro - Impressões finais

Experimentando a fundo a 29er em carbono mais acessível da Scott.


Há algum tempo a Scott Scale 29 Pro foi apresentada em detalhes aqui no P29BR, mais precisamente em janeiro passado (http://projeto29brasil.blogspot.com/2011/01/p29br-29er-test-apresentando-scott.html). Imagino que os blog-leitores mais assíduos já deveriam estar se perguntando o por quê do teste propriamente dito ainda não ter sido publicado. O caso desta Scott é bem diferente. A IGP, representante da marca no Brasil, inovou e cedeu ao P29BR a Scale 29 Pro por um período mais extenso, foram três longos e divertidos meses a bordo de uma 29er muito especial. Sendo assim, tive todo o tempo necessário para explorar com profundidade o modelo e experimentar na prática todo tipo de alteração ou upgrade que os eventuais proprietários poderiam idealizar.


Conforme mencionei antes, a Scale 29 Pro é de fato especial e razões para confirmar isso não faltam, sejam elas técnicas, estéticas ou comerciais. O advento da linha 2011 de bicicletas da Scott marcou o lançamento dos dois primeiros modelos de 29ers produzidos em carbono pela marca suíça, reconhecida internacionalmente como especialista na manipulação desse nobre material. A espetacular Scale 29 RC, modelo de competição com rodas grandes top de linha da Scott dispensa apresentações, entretanto custa mais que o dobro a Scale 29 Pro, esta última que por sua vez conta com uma relação custo X benefício extremamente favorável. Ambas compartilham do mesmo e moderníssimo processo construtivo, batizado de IMP3, onde top tube, head tube e down tube são construídos como uma peça única, o que gera uma considerável diminuição de peso e aumento de rigidez do conjunto em relação aos processos de fabricação com fibras mais tradicionais. Apesar do belo quadro da Scale 29 Pro ser muito similar em aparência ao modelo mostrado anteriormente no P29BR (http://projeto29brasil.blogspot.com/2010/12/p29br-29er-dream-carbon-frames-niner.html), são empregadas aqui fibras diferentes, do tipo HMF e não as HMX do "irmão" de 949 gramas; ainda assim, o peso do quadro da Scale 29 Pro está na casa de 1.150 gramas, ou seja, ainda é muito mais leve que a grande maioria dos principais concorrentes diretos. O interessante é que o quadro é integralmente construído em carbono, sem apelar para inserts de metal nas áreas críticas como, por exemplo, no robusto head tube conificado, na concha do movimento central e nas gancheiras. Tudo isso também justifica seu baixo peso. O triângulo traseiro desta Scott do mesmo modo foi concebido como uma estrutura única, com a particularidade de utilizar o sistema SDS de absorção de impactos, desenvolvido para permitir alguma flexibilidade vertical e ao mesmo tempo otimizar a rigidez lateral, visando minimizar as vibrações de alta frequência advindas do terreno e ainda responder rapidamente aos esforços de pedalada. Outra tendência de mercado entre os modelos top de linha são os cabos de câmbio correndo internamente aos tubos, na Scale 29 Pro não é diferente. A Scale 29 Pro pesou 10,8Kg sem os pedais e desde o princípio mostrou grande potencial para “emagrecer” sem muito esforço (e gasto).


Em termos de geometria, a Scott já tinha mostrado um interessante diferencial nos seus modelos construídos em alumínio, lançando mão de uma suspensão dianteira com 100mm de curso, montada em um quadro com ângulo de caixa de direção relaxado, são apenas 69.5°, além de uma traseira curtíssima, com 440mm de comprimento nos chain stays e o movimento central baixo em relação ao eixo das rodas. Alguns conhecedores de 29ers se mostraram céticos num primeiro momento em relação aos números da geometria da Scott, visto que até então a cartilha da moderna bicicleta aro 29" pregava que o ângulo do head tube deveria ser mais elevado em relação ao padrão usualmente aceito para as bikes aro 26" de XC. Na prática a geometria da Scott se mostrou muito bem sucedida desde o início, contudo com a chegada dos novos quadros em carbono, a marca se superou novamente e avançou ainda mais, a Scale 29 Pro está mais fácil de pilotar,  além de contar agora com chain stays de apenas 438mm de comprimento, graças ao seat tube curvado e da maior liberdade na concepção do formato dos tubos proporcionada pelo emprego da fibra de carbono.


No quesito componentes os destaques são vários, começando pela transmissão de 30 velocidades, uma mescla interessante entre SRAM e Shimano. Da primeira vem o câmbio traseiro X.9, os trocadores X.7, o cassette 12-36 e a corrente; da marca japonesa você encontrará o câmbio dianteiro SLX Dyna-Sys e o pedivela  FC-M552 42-32-24 compatível com o movimento central BB92 do tipo Press-Fit escolhido pela Scott para equipar a bike, trata-se de um padrão desenvolvido pela própria Shimano e explicado em detalhes  no post “Entendendo os novos tipos de movimento central” (http://projeto29brasil.blogspot.com/2011/03/p29br-29er-doc-entendendo-os-novos.html). O curioso aqui é que um aviso colado ao pedivela afirma que o mesmo é somente compatível com correntes Shimano HG-X Dyna-Sys, em termos práticos isso simplesmente não se aplica, ou seja, mesmo com o setup eclético da Scale 29 Pro seu funcionamento é perfeito, ainda que  combinado com uma corrente PC-1031 da concorrente SRAM! As competentes rodas estão montadas com aros e raios DT Swiss, além possuírem de nipples de alumínio anodizado na cor vermelha. Anodizada também é a caixa de direção Ritchey Comp. Vários componentes, como mesa, guidão, canote e manoplas são de marca própria, mas seguem mantendo o alto padrão de qualidade do pacote, além de apresentarem cores coordenadas com o resto da bike, incluindo com a suspensão dianteira RockShox Reba 29 RL que possui trava no guidão. Deixo uma ressalva especial ao Avid Matchmaker, que permite agrupar os manetes de freio e os trocadores de maneira ergonômica, deixando o guidão mais limpo e com maior espaço útil. Os pedais de encaixe Shimano na cor branca também compõe bem com o visual da bike.


A partir do momento que o piloto assume o comando do cockpit da Scale 29 Pro, imediatamente percebe que tem nas mãos uma máquina de competição, colocando-se em uma posição lançada e baixa, por conta do seu bem escolhido guidão reto e head tube de altura compacta, ainda que seu peso se mantenha bem distribuído entre os eixos. Por conta dos chain stays curtos, acelerar a Scale 29 Pro não é difícil, no entanto a bike brilha mesmo nos singletracks, numa evolução do comportamento que já havia observado na versão em alumínio das 29ers da Scott.

Quanto mais acidentado o percurso, mais ficam evidenciadas as qualidades da Scale 29 Pro. Sua suspensão Reba RL com 100mm de curso surpreendeu, se mostrou muito eficiente e incrivelmente suplantou em desempenho a Reba RLT – mais cara -  que testei que há algumas semanas em outra bike. Os milímetros adicionais de curso são bem aproveitados pela Scott e fazem toda a diferença na trilha. Andei quase que o tempo todo com a suspensão travada e ajustei a sensibilidade da plataforma Floodgate de modo a torná-la bastante ativa. Utilizei com sucesso a calibragem de 110 psi na câmara positiva e 115 na negativa, o que resultou em melhor desempenho na parte inicial do curso, as conhecidas ondulações de baixa velocidade.


Nos trechos sinuosos, a Scale 29 Pro parece rodar sobre trilhos, mostrando uma recuperação de velocidade acima da média em saídas de curva. Apesar dos pneus Rocket Ron 29x2.25” passarem uma impressão de serem superdimensionados para uma bike de XC, ao contrário do que se poderia esperar,  apresentam baixa resistência à rolagem e boa aderência na grande maioria das situações. Eles estão entre os itens responsáveis pelo ótimo desempenho desta Scott nas curvas, além disso os Schwalbe são “Tubeless Ready”, ou seja, preparados para uma eventual e sempre desejada conversão para o uso sem câmaras.

Em descidas, apesar da curta distância entre-eixos, a todo momento você é lembrado que está mesmo a bordo de uma 29er, já usualmente uma mountain bike estável e confortável. Em se tratando de uma rabo-duro como a Scale 29 Pro o quesito conforto foi maximizado ao extremo e atende pelo nome de SDS. O SDS - Shock Damping System está longe de ser apenas uma jogada de marketing da fábrica, o sistema de amortecimento desenvolvido pela Scott para os chain stays da versão em carbono da Scale efetivamente funciona no sentido de anular uma parcela importante dos efeitos das ondulações do solo sobre o piloto, o que garante muitas e contínuas horas de pedal para o feliz proprietário desta bike.


Os freios Avid Elixir 5 aliados à sábia escolha da Scott por um rotor de maior diâmetro na dianteira, 185mm, tem como resultado uma frenagem segura e bem modulada, por outro lado, em nenhuma situação travei a roda traseira, mais uma qualidade inerente das 29ers que ficou evidenciada neste modelo da Scott. O suporte traseiro Direct PostMount 160 desenvolvido pela Scott é bastante funcional e mais um pequeno detalhe a colaborar para o baixo peso do conjunto.

Finalmente, nas subidas a Scale 29 Pro é um verdadeiro foguete, fica claro que se trata de uma bike criada para aqueles que buscam desempenho e velocidade. A concha do movimento central mais larga e projetada para o padrão Press-Fit oferece 15% a mais de rigidez e colabora decisivamente para que a potência dos pedais seja transferida às rodas de forma eficiente. É uma bike perfeita para se pedalar em pé e tirar proveito uma vez mais do grip dos seus grandes pneus, que demoram a perder tração.


Os três meses de pedal com a Scale 29 Pro foram extremamente proveitosos e me permitiram testar na prática muitos dos upgrades que costumo recomendar aos blog-leitores. Vamos a eles:

- Conversão tubeless: A conversão propriamente dita foi uma das mais tranqüilas que já realizei, nem precisei remover a fita de aro original de fábrica, apenas instalei sobre ela a fita de borracha NoTubes específica para aro 29”. Montei os pneus, coloquei o selante, a tradicional espuma de sabão nas laterais e passei a inflar até que os pneus estivessem corretamente assentados. Daí em diante, bastou calibrar os Rocket Ron com algo em torno de 30 psi e aaproveitar ainda mais as qualidades da Scale 29 Pro. Upgrade aprovado e recomendado.

- Troca do guidão: O guidão original de 660mm de largura foi trocado por um modelo riser mais largo, com 685mm. Aqui não houve ganho de desempenho, além da frente da bike se tornar alta demais, mesmo jogando com os espaçadores da mesa. Ficou claro que o guidão Scott Hot Rod flat é a melhor opção neste caso. Se pretender usar bar ends, prefira então um guidão ainda reto só que mais largo para não perder alavanca em comparação ao modelo de fábrica. Upgrade reprovado.

- Uso de pneus mais estreitos: Como ia participar de uma competição de maratona sem grandes dificuldades técnicas, preferi montar pneus puramente de XC com perfil mais estreito na Scale 29 Pro. Sinceramente, não percebi um ganho de performance e peso tão evidente que justificasse a troca. Ainda assim, esse é um upgrade que merece mais reflexão. Com os pneu originais mais largos, o “mud clearance” (espaço para escoamento de lama entre os chain stays e o pneu traseiro) é insatisfatório e pode de fato prejudicar a pedalada em situações de muita lama. Por outro lado, em condições secas não há qualquer problema com o equipamento de fábrica, além disso considero o Schwalbe Rocket Ron o melhor pneu todo-terreno disponível para rodas de 29 polegadas, por isso, se gostar de explorar trilhas desconhecidas ou de encarar trechos técnicos, é preferível seguir com os originais. Upgrade recomendado para rodar na lama.

- Troca do selim: A marca foi muito cuidadosa na escolha dos componentes para a Scale 29 Pro, o selim original é um leve modelo de competição da Selle Italia customizado para a Scott. Ele conta com um perfil adequado e uma plataforma bastante rígida, como pedem os profissionais. No entanto poucos de nós, simples mortais, temos estrutura física para suportar algumas dezenas de quilômetros sobre um selim de cobertura mais rígida como este, por isso sugiro migrar para um modelo mais confortável. Como sempre digo, a escolha de um selim é muito pessoal. De qualquer forma atendendo a pedidos dos blog-leitores estou elaborando um artigo falando da minha busca incansável pelo selim perfeito, fique ligado. Upgrade aprovado e recomendado para não profissionais.

- Pedivela de duas coroas: O chainline, ou linha de corrente, da Scale 29 Pro favorece enormemente o emprego de um pedivela de duas coroas, perfeito para um uso XC numa bike leve como esta, assim todas as suas combinações de marchas poderiam ser integralmente utilizadas e a pedalada se tornaria mais natural. Acontece que o movimento central BB92 limita a escolha do pedivela somente entre os modelos da própria Shimano. Hoje na linha de produtos da marca japonesa, apenas o XTR está disponível nessa configuração de coroa dupla, o que pelos próximos meses tornaria este upgrade muito custoso, pelo menos até o já anunciado lançamento da nova linha XT com opções em pedivelas de dupla coroa. Felizmente, alguns outros fornecedores de componentes desenvolveram um movimento central compatível com conchas BB92, mas que permite a montagem de outros pedivelas com eixo de 24mm, como é o caso da FSA, aí nesse caso o proprietário da Scale 29 Pro teria também que substituir o movimento central original. Upgrade recomendado para aqueles que hoje possuem um bom saldo bancário e que querem ganhar em termos de peso e desempenho.

Os pilotos mais pesados poderiam preferir um eixo passante na suspensão dianteira, como o 15QR, o que garantiria uma direção mais precisa nas condições mais adversas. Para meus 75Kg o eixo dianteiro padrão de 9mm mostrou-se funcional e supriu tranquilamente minhas necessidades.


A Scale 29 Pro tem preço sugerido de R$ 9.999,00 e está disponível em três tamanhos (M, L e XL). Considerando-se a qualidade do quadro e seu potencial como um todo, esta 29er da Scott pode ser a opção ideal para o biker interessado em competir em alto nível, sem ter que dispor de um valor mais alto para contar com os benefícios de um equipamento tecnologicamente avançado como este. Pessoalmente, confesso que está sendo difícil de me separar da Scale 29 Pro, seguramente uma das 3 melhores 29ers que já pedalei até hoje...e olha que até hoje foram muitas.

Keep 29eriding!


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