segunda-feira, 30 de maio de 2011

Hamilton x Armstrong

Publicado no Correio Braziliense em 29 de maio de 2011. Imagem ilustrativa WEB.


Quando assisti ao vídeo do Tyler Hamilton no 60 min em cbsnews.com na última semana, já não tive a mesma reação ingênua do último novembro, quando soube do falecimento de um ciclista em Brasília, logo após uma prova na cidade.

Não é uma questão de comparar credibilidades: Hamilton ganhou ouro em Atenas, 2004. Também foi companheiro de Lance Armstrong na US Postal, entre 1998 e 2001. Segundo consta, Armstrong é o atleta mais vigiado da história anti-dopping, mas Hamilton é categórico ao assumir que utilizou substâncias ilícitas e que testemunhou o companheiro de equipe injetar EPO (hormônio que estimula a produção de glóbulos vermelhos, aumentando a capacidade de transporte de oxigênio no sangue).

Infelizmente, a desconfiança é a palavra chave em um momento como esse. Por um lado, ao lançar seu livro em meio a uma declaração bombástica em um dos principais programas americanos, Hamilton aparece para o mundo em uma vitrine maior que a própria Olimpíada, e garante uma tiragem sensacional para sua publicação. Por outro lado, tem sempre o dinheiro.

A história de Lance Armstrong é emblemática e rodou o mundo. Ciclista de modesta projeção, descobriu em 1996 um câncer nos testículos, com metástase no cérebro e no pulmão. Ao invés de sucumbir, tratou-se e foi alçado à constelação do ciclismo mundial, tornando-se o maior vencedor do Tour de France: 07 títulos - o primeiro já em 1999.

Macular sua trajetória é agressivo não só pelo seu exemplo como atleta e superação na vida pessoal, mas pelo impacto no trabalho da Fundação que leva seu nome. Mas penso que pior é considerar a possibilidade de conivência da própria UCI - entidade máxima do esporte, que supostamente teria omitido um resultado positivo de dopping em sua carreira.

Pelo dinheiro, e pelo status envolvido, a briga vai longe e é caso para a Justiça. No entanto, sigo preocupado com outra categoria, distante dos holofotes mundiais, distante das milionárias contas bancárias, dos patrocínios e das marcas globais, dos times profissionais e das provas internacionais - para quem existe a UCI.

Falo do Brasil e de Brasília, especificamente. Longe dos controles positivos, certos da impunidade. Transfusão de sangue, EPO, diuréticos com vaso-dilatador e sabe-se lá o que mais, para andar forte no pelotão do Lago Sul.

O que era ridículo e abominável, agora bate à nossa porta. 
 






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