segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pela necessidade de rever nosso paradigma


A palavra “paradigma” vem do grego parádeigma e literalmente quer dizer modelo. Em termos de significado, um paradigma é a representação de um padrão a ser seguido. Na prática, é o modelo de comportamento/ pensamento vigente em uma época.
Dito isto, na semana passada decidi fazer uma experiência. Para quem não sabe, sou cirurgião dentista a quase 20 anos, e minha clínica se localiza em Santo André, cidade do ABC Paulista. Atualmente moro em São Paulo, especificamente na Vila Mariana.
Sempre pensei em um dia deixar o carro na garagem e experimentar o transporte público para realizar o trajeto “casa-trabalho-casa”. Com a recente expansão do metrô, que incluiu uma integração com o trem da CPTM na estação de metrô Tamanduatei, única maneira (fora ônibus) de chegar até Santo André utilizando o transporte público, comecei a me animar. A decisão final veio através da chegada aqui em casa de uma linda Dahon Curve D3 (valeu, Ciclo Urbano!!!) – na verdade compramos a bike para minha filha de 9 anos, que vai tê-la como companheira ao longo de seu crescimento até a fase adulta, e que, graciosamente, combinou de me emprestar quando eu precisasse – que me inspirou a realizar uma verdadeira comutação, no melhor estilo londrino.
Saí de casa e pedalei até a estação “Chácara Klabin” (a estação mais próxima de casa seria a “Santa Cruz”, porém os metrôs desta linha no horário que eu precisava infelizmente são bem lotados, o que me fez pedalar até uma estação mais distante, porém mais “tranquila”), peguei o metrô no sentido “Vila Prudente” e desci na estação “Tamanduatei”. Detalhe: já na chegada do metrô, dobrei a bike e coloquei uma capa improvisada feita a partir de uma grande sacola plástica, para evitar alguma restrição de embarque (se você vai realizar algo semelhante, sempre chegue na bilheteria com a bike já dobrada e protegida, para evitar transtornos). Paguei meu bilhete e embarquei tranquilamente, sob os olhares curiosos das pessoas. Também, um cara de roupa branca com uma bike dobrável vermelha…Vou te falar, viu?
Na estação “Tamanduatei”, fiz a integração com o trem, também de maneira tranquila. Porém, tem que ter um pouco de disposição para carregar a bike nos corredores da estação, pois muitas vezes não temos escada rolante no trecho que precisamos…
No trem para Santo André, a velocidade do percurso muda um pouco. O danado do trem é bem devagar, chacoalha bem mais que o metrô, mas nada muito complicado. Desembarquei em Santo André e pedalei até minha clínica, que fica no centro, a umas 10 quadras da estação de trem. Sucesso total!
Agora a parte impressionante: olhei no relógio e, por R$ 2,90 (R$ 5,80 computando ida e volta) realizei o percurso em praticamente o mesmo tempo do que se fosse de carro!!! Dá para acreditar???
Depois de tudo isto, vem a pergunta: precisamos ou não mudar nosso paradigma de transporte, que é focado muito mais nos automóveis e/ou nos transportes individuais?
Eu viajei confortavelmente (pois realizei este percurso no “contra-fluxo”, creio que se fosse num horário “de pico” a experiência não teria sido tão interessante…), olhando a paisagem, sem me estressar com o trânsito, sem me preocupar em dirigir defensivamente, sem poluir o meio ambiente, ainda aproveitei e realizei um pouco de exercício físico, enfim, aproveitei o trajeto. Se tivesse ido de carro, chegaria estressado, cansado, e, acima de tudo, teria contribuído para o já caótico trânsito com a presença de mais um carro.
E, sem ranço e nem ativismo, fiz tudo isto com a mesma eficácia de um automóvel (sendo que no caso nosso parâmetro de eficácia seria considerar somente o tempo de percurso).
Lógico que esta situação tem muitas variáveis e particularidades, e acho que cada um deve considerar suas possibilidades ao decidir substituir o carro pela bicicleta, ou por qualquer outro meio de transporte coletivo.
Mas a sensação de estar fazendo minha parte para um mundo melhor, ou, porque não dizer, para o futuro de nossas crianças, é única!
E você, o que está fazendo para que tenhamos um futuro melhor?
Em tempo: eu também penso que nossa bike deve ser o “espelho de nossa alma”, porém o cara da foto acima exagerou, hein???


Um comentário:

  1. Interessantíssimo, faço uso da bike diariamente há mais de 20 anos aqui em Curitiba, vou e volto do trabalho duas vezes ao dia todos os dias(dou aulas de Ciclismo Indoor) o que não é fácil em uma cidade como Curitiba, que não favorece muito a prática do Ciclismo diário de transporte devido ao clima e relevo. posso garantir que há apenas "ganho" nessa atitude (a não ser que se coloque nessa avaliação a comodidade, conforto e blá blá blá que tanto é valorizado pela sociedade capitalista motorizada e preguiçosa!)
    Acredito que para iniciar esse processo seja necessário "pontuar" na semana pelo menos 2 dias nessa atitude saudável, o que já é o suficiente para ter um ganho significativo em múltiplos aspectos da vida, e o bastante para estimular o cidadão á adquirir um "novo padrão" de mobilidade.

    Parabéns pelo texto e pela atitude, boas pedaladas!

    Celso Ribas.

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