segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Atropelador de ciclistas pode ser enviado a júri popular


Quatro das cinco testemunhas de defesa foram ouvidas na manhã desta sexta-feira | foto: Ramiro Furquim/Sul21


 André Carvalho

Após pouco mais de três horas, encerrou no início da tarde desta sexta-feira (02) a última audiência da fase de instrução do processo contra Ricardo José Neis, atropelador de 17 ciclistas no dia 25 de fevereiro. Na sessão, foram ouvidas quatro das cinco testemunhas de defesa intimadas a depor a favor do réu. Uma foi dispensada por problemas de saúde. Ao final, houve também o interrogatório da promotoria à Neis, que a promotora de Justiça Lúcia Helena Callegari qualificou como algo “lamentável”. “Faltou humildade por parte do réu, que culpava com veemência os ciclistas da Massa Crítica pelo fato, procurando se inocentar”, disse Callegari. Em um prazo de cinco dias, deve ser definido se Neis será ou não encaminhado a júri popular.
Ricardo Neis, que evitou contato com a imprensa, aparentava um estado de cansaço. Ele estava de cadeira de rodas por ter sofrido um acidente doméstico. Segundo seus advogados, Neis quebrou os tornozelos após cair do muro de sua casa, motivo que o fez se ausentar da audiência do dia 21 de outubro.
Das testemunhas, foram ouvidos dois colegas de trabalho; um motorista que estava atrás dele no dia do atropelamento; e uma senhora que declarou ter presenciado outro tipo de tumulto envolvendo a Massa Crítica, mas que não estava presente no dia. Segundo o promotor Eugênio Amorim, esta última foi descarregar sua raiva contra ciclistas. “Ela declarou que em agosto de 2010, presenciou um conflito entre um motorista e ciclistas, que ela não sabia afirmar se eram participantes da Massa Crítica”.

Para o promotor Eugênio Amorim, "as testemunhas de defesa mais prejudicaram do que ajudaram o réu" | Foto: Naian Sader/Especial


Amorim afirmou também que o motorista atrás do Neis depôs indiretamente contra o atropelador. “Em seu depoimento, ele afirmou ter visto o conflito inicial entre Ricardo e alguns ciclistas, no início da Avenida José do Patrocínio, porém, por segurança achou melhor dobrar a esquerda, coisa que Neis deveria ter feito, mas não fez”.
“Graças a esse argumento, a solicitação de perícia dos vídeos; reconstituição do cenário; e da trajetória de Neis para tentar provar a versão apresentada pela defesa, de que seu cliente foi agredido antes de reagir, foi indeferido pelo juiz”, destacou o promotor.
Curiosamente, o filho de Ricardo Neis, que estava no carro no dia do atropelamento, não foi uma de suas testemunhas. Segundo o advogado Alexandre Luis Maziero, a defesa achou melhor preservar o garoto. “Além dele ser menor de idade (15 anos), ele ainda está muito abalado com o caso”, afirmou.
Ao final da audiência, o Juiz substituto Leandro Raul Klippel deu cinco dias para a defesa se manifestar sobre o fechamento do caso. Caso os argumentos apresentados sejam novamente indeferidos ou não sejam apresentados, o Juiz decidirá se o julgamento irá à Júri Popular ou não. Há a possibilidade do processo ser encaminhado para a Vara Criminal, caso seja comprovada a intenção de lesionar os ciclistas.


  Cerca de 15 ciclistas estiveram na frente do Fórum Central para protestar | Foto: Naian Sader/Especial


 Ciclistas protestam no Fórum Central

Cerca de 15 cicloativistas estiveram presentes na frente do Fórum Central para manifestar o seu repúdio a Ricardo José Neis. Com cartazes que diziam “legítima covardia”, o grupo pretendia acompanhar a audiência, porém, a sessão não foi aberta ao público.
“Nós queremos que a justiça seja feita contra este assassino. Queremos mostrar que não nos esquecemos do trágico atropelamento, que repercutiu mundialmente e que abalou a todos nós. Estamos atentos a todos os movimentos desse processo”, declarou um dos manifestantes.
Os 17 ciclistas atropelados por Neis participavam da tradicional pedalada protagonizada pela Massa Crítica, que ocorre toda última sexta-feira do mês. Logo após um desentendimento entre Neis e os ciclistas, o veículo acelerou por cima dos integrantes da pedalada, vindo de trás. Oito pessoas foram atendidas no Hospital de Pronto Socorro da capital gaúcha. Após a agressão, o veículo fugiu, sem prestar socorro às vítimas.
Ricardo José Neis abandonou o carro, com os vidros quebrados, em uma região pouco movimentada do bairro Partenon, em Porto Alegre. Os advogados do bancário alegam que Neis teria cometido o ato para proteger a si mesmo e seu filho de uma tentativa de linchamento por parte dos ciclistas.




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