quinta-feira, 21 de junho de 2012

Fora(s) do ar...


 


   Pedalo há mais de 20 anos. Parei, recomecei e abandonei várias vezes, nesse tempo. Vi a evolução das bikes BMX, depois a evolução das MTB, bem como as de speed, mas confesso que meu foco sempre foi o MTB e a liberdade que ele dá, os lugares que ele proporciona conhecer, as amizades que ele me fez ter... Nestes anos, pude ver a evolução do esporte, a evolução das bicicletas com um todo, a tecnologia se transformando e moldando os ciclistas, bem como ás suas “magrelas”, cujos valores se tornaram bem “gordos”.

   Sempre admirei quem pedala por amor, por esporte, mesmo abominando os doppings e os fracos que se submetem a isso, e acompanhei a revolução de não se pedalar somente por esporte, mas por que se gosta, mesmo. Quando era guri, pouco se viam os pedalantes por amor, fora os reais apaixonados, que viviam em cima da bike, pra cima e para baixo... eu era visto como “guri”, mesmo depois de me tornar adolescente, por amar as duas rodas, no verão e no inverno, e era até criticado. Não ligava, a bicicleta me levava a lugares que eu não ia com quatro rodas... pra mim, era o paraíso...

   Hoje, os tempos são outros. Já se pedala pra salvar o planeta, pra reduzir a emissão de gases poluentes, já se “pensa” a pedalada. Acho fantástico que a minha 1ª paixão, a bicicleta, tenha evoluído e tenha dado este salto, sendo colocada no altar da sustentabilidade. Esse é o lugar dela!

   Como os incentivos, pelo poder público, são sempre no sentido de termos mais carros atravancando o caminho, pois bicicleta não paga IPVA, pedágio, etc., começaram a aparecer as ciclovias, ciclofaixas e outras ciclos que não tem nada nem de uma, nem de outra... o poder público, em alguns casos, faz a tal ciclocoisa de forma equivocada, sem planejamento. Realmente, uma obra sem inclusão, sem ouvir o ciclista, enfim, um grande equívoco...

   É lógico que haverá uma evolução destas ciclocoisas e outras já funcionam como ciclovias de verdade, Sabemos de países da Europa e lugares aqui do Brasil onde a mobilidade através da bicicleta é um sucesso. Admito que é mais na Europa, mas podemos e vamos aprender com os exemplos deles...

   Aqui, na minha cidade, foi feita uma ciclovia. Mal feita. Uma ciclovia que não está sendo aproveitada e que, na época, alguns ciclistas gritaram a plenos pulmões que era uma obra mal feita e totalmente dispensável. Hoje, esta ciclovia destina-se ás pessoas, pois não existe calçada no local, então os caminhantes tomaram seu lugar. O engraçado nesta história é que já me disseram que a ciclovia não é ocupada pelo ciclista porque ele não quer, que a culpa de não ter dado certo é do próprio, não de uma malfadada ciclovia mal planejada e eleitoreira, inaugurada com alarde de mega estrutura...

   Agora, estão terminando uma ciclofaixa. Novamente, mal planejada e mal executada, ás vésperas de uma eleição, pra pegar desprevenido o eleitor que não entende de mobilidade urbana e que certamente vai achar que nós, os loucos de sempre, estamos esbravejando ódio contra tudo que o poder público faz... basta ter neurônio (sim, só um) pra saber que não é isso.

   O debate se acalorou, colocando ciclistas em ambos os lados, o que, para o processo democrático, é válido e vital. 

   No debate, posicionaram-se vários grupos, e deles, saíram outras ramificações... então, pude perceber que o brasileiro não tem nada porque não merece, porque não consegue se agrupar, porque não consegue ser humilde! Nos debates, pseudo-pensadores se colocaram como juízes, atacando de forma imbecil e imprudente os ciclistas que usam roupas coloridas, bicicletas caras ou coisas da moda. Puseram-se, ainda, alguns ciclistas “das antigas”, como acusadores e carrascos dos que eles consideram menos importantes por não pensarem como eles ou serem ameaças ao seu modo de viver, se colocando como “donos da bola”, por serem ciclistas mais antigos e assim donos da verdade. Se travestiram de ignorância, a ponto de se auto proclamarem iniciadores e líderes de movimentos maiores que qualquer um de nós... se achando sábios, se expuseram como tolos. Cerceando a livre-iniciativa, o livre-pensamento, o livre agir, pensar e sentir, os tolos cerceiam a LIBERDADE. Evocaram suas pedaladas, suas viagens, suas aventuras, SUAS e de mais ninguém. SUAS e somente SUAS, pois ninguém, para esse grupo, tem o direito de opinar em contrário, de ter voz, pois se elegeram “chefes” da coisa, “donos” do pedaço. Pobres vidas que levam, para ter que humilhar companheiros para poderem se exaltar... com certeza, são almas pobres, personalidades fracas...

   Abomino toda e qualquer castração de liberdade. Opino, me posiciono, esbravejo, mas é indispensável refrear a língua, ponderar, pensar realmente, coisas que os debates nos mostraram faltar a alguns... infelizmente, a multidão vai atrás, se tornando massa de manobra, a arma preferida dos déspotas... o poder fascina, corrompe. Todo o poder, até o ínfimo, pequeno, irrisório...

   Não, isso tudo não foi pra falar de ciclovias, ciclofaixas, ciclocoisas... foi pra lamentar que sejamos tão desunidos e tão ignorantes no que se trata de pessoas e liberdades. Foi pra lamentar mais uma vez que o “todo” não pode participar, somente quem tem a carteirinha do clube e que não seja, a priori, contra, questionador, pensante e que não use roupas coloridas da moda... ah! e que seja antigo, pois os novos não tem valor... Tolos! Subam em suas bicicletas e pedalem pra longe do convívio em sociedade! Ela não precisa de vocês! Ou aprendam a ouvir com humildade, isso sim é inclusão, isso sim é liderança...

   Esequiél Bovo Vieira